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Fala, Comunidade! Ano 2025: Promoção da Saúde e Bem Viver em Territórios Populares

No dia 03 e 04 de dezembro aconteceu o seminário “Fala, Comunidade! Promoção da Saúde e Bem Viver em Territórios populares no auditório da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz). Realizado pelo Cedaps com apoio da Rede de Comunidades Saudáveis, Youth Build, Brazil Foudantion, Centro de Referência Professor Helio Fraga (CRPHF) da Fiocruz e Ministério da Saúde, o encontro teve como objetivo reunir lideranças comunitárias, juventudes, pesquisadores e conselheiros de direitos para construir estratégias de promoção da saúde e acesso a direitos em territórios populares.

O evento contou com a participação de lideranças comunitárias, os jovens representantes de territórios populares , os parceiros, a direção do Cedaps, a Coordenação do CRPHF/ENSP-Fiocruz, a representação do Departamento de Promoção da Saúde do Ministério da Saúde DEPRUS, conselheiros de direitos e pesquisadores de diversas áreas para trocar saberes, vivências e formas de mobilizar redes de transformação social.

O Seminário foi transmitido ao vivo no canal do Youtube da ENSP/Fiocruz e contou com tradução em libras e audiodescrição dos participantes.

Dia 03 de dezembro

Boas-vindas e abertura do Seminário

Wanda Guimarães, Coordenadora Geral do Cedaps fez uma fala de abertura do Seminário celebrando os 24 anos do Fala, Comunidade! Nesse período, já participaram em torno de 5.000 pessoas. Ela destaca a importância de colocar as comunidades no centro da discussão, ouvindo o que as pessoas precisam, o que priorizam e como as organizações, os técnicos e serviços podem colaborar no trabalho coletivo de construção de soluções locais para promoção da saúde.

Destaca, ainda, o papel do Seminário como um espaço de escuta, diálogo e fortalecimento de todas as vozes que constroem o cuidado em territórios populares.

Katia Edmundo, Diretora do Cedaps, Jorge Luiz da Rocha, Coordenador do CRPHF/ENSP, Hugo Sabino, representando a Rede de Juventudes do Cedaps, Rosária Piriz, da Rede de Comunidades Saudáveis da base de Salvador-BA e Marcos Menezes, diretor da ENSP/Fiocruz participaram da Mesa da Conferência de abertura do Seminário.

Katia resgatou o histórico do “Fala, Comunidade!” que surge com o propósito de desenvolver ações, construir pontes e alianças e que a comunidade pudesse assumir o protagonismo na construção coletiva de caminhos para o cuidado.

A parceria com o Cedaps foi celebrada por Jorge Luiz da Rocha, ressaltando que o CRPHF é um centro de referência no controle da tuberculose no Brasil e que o trabalho em conjunto é fundamental para o enfrentamento da doença.

Representando a Rede de Comunidades Saudáveis de Salvador, Rosária destaca a colaboração e apoio do Cedaps em todo o processo de capacitação e fortalecimento de lideranças comunitárias.

Marcos Menezes fala da centralidade do Fala, Comunidade! como um espaço de diálogo com a sociedade e troca intergeracional entre juventude e pessoas dos territórios com muitas histórias de luta, com respeito a ancestralidade. Para ele, esta é a base do diálogo dos Direitos Humanos e da democracia no país. Também destacou o posicionamento da Fiocruz como uma instituição pública estratégica do Estado brasileiro para a sociedade.

Hugo Sabino, que compôs o Conselho de juventude do Programa Jovens Construtores, provocou a reflexão junto ao público sobre os sentidos de promoção de saúde e bem viver nas comunidades:

Como uma pessoa nascida e criada no Morro dos Prazeres, fiquei me perguntando o que seria o bem-viver dentro de um território popular e em várias situações que a gente vivencia diariamente, tendo a certeza que bem-viver está longe da gente expor mais de 115 corpos em uma praça pública dentro de uma comunidade. Que bem-viver está longe da gente passar dias sem água, dias sem luz, da gente olhar situações de violência e não poder se mobilizar para resolver aquela situação por mais que a gente tenha revolta, por mais que a gente tenha vontade. A gente vê que as coisas passam no jornal, da violência contra a mulher, da violência contra a comunidade LGBTTQIAPN+, da violência contra os terreiros, contra pessoas que convivem com doenças, da gente se revoltar com isso e não poder fazer nada. Refletindo sobre isso com relação à juventude, fiquei pensando que é muito fácil a gente desacreditar do bem-viver em um território popular, quando a gente experencia isso todo o santo dia, quando a gente abre a porta e dá de cara com essa violência. Mas a gente não se dá por vencido, não é só a violência que está nesse território. O que vem depois para a juventude talvez seja a utopia, a utopia como esperança, de resgatar na gente a criança que acredita nos sonhos. É uma utopia que não fica só no imaginário, o que vem depois da utopia é resgatar a garra e a luta dos que vieram antes de nós para a gente continuar construindo a possibilidade de sonhar e de sonhar com ação, e essa ação precisa ser coletiva.

Veja as fotos da Mesa de Boas-vindas do Fala, Comunidade!:

Após a Conferência de abertura, Juliano, da Frente de Juventude do Cedaps, e Isabele. da frente de Prevenção e Cuidado do Cedaps, leram o Manifesto produzido pelo Cedaps em solidariedade aos territórios vítimas de violência do Estado ocorrida em 28 de outubro de 2025.

Confira o registro da leitura do Manifesto do Cedaps:

Conferência de abertura: Bem Viver em Territórios Populares

Lúcia Xavier, Assistente Social, ativista de Direitos Humanos, fundadora da ONG Criola e representante da gerência de IST/AIDS da Secretaria Estadual de Saúde, falou sobre a ideia do bem viver como concepção política que propõe a mudança de paradigmas, de modelo de civilidade que nos ajuda a pensar em uma nova sociedade e uma vida com dignidade e acesso a direitos.

Para ela, falar de bem viver em territórios populares é falar da garantia ao direito a vida, especialmente de grupos mais vulneráveis, do papel das lutas contra as opressões que incidem sobre a população que vive nesses territórios e fortalecer a articulação comunitária para melhorar as relações sociais.

Além disso, chama a atenção para a emergência climática e sua relação direta com acesso à saúde e direitos básicos como acesso à água potável, saneamento básico, tornando ainda mais necessário o debate sobre a distribuição de recursos públicos e soluções para garantir políticas públicas e o bem-viver nos territórios de maior vulnerabilidade social. Segundo ela, o caminho a promoção do bem viver é coletivo:

Para que o bem-viver se estabeleça, é necessário que agenciemos nossos direitos e que ampliemos nossas redes, nossas teias. […] A dimensão do bem-viver é o que a gente já vem fazendo, mas podemos fazer melhor, pode ser apropriada por nós como um modelo que pode servir à nossa sociedade, como um modelo que pode oferecer às próximas gerações algum tipo de argumento, estrutura, que permita que essas novas gerações enfrentem as mudanças que estão por vir.

Veja foto da Conferência de abertura:

Painel Temático 1: O Programa Jovens Construtores e a promoção do bem viver

O Painel Temático celebrou o Programa Jovens Construtores (PJC) que este ano completa 15 anos de existência. Juliano abriu o painel ressaltando o PJC como a continuidade e o fortalecimento do trabalho da juventude nas favelas e periferias do Rio de Janeiro, que inspira ações em outros estados do Brasil e contribui para a promoção do bem viver em territórios populares.

Anne Reder , Coordenadora do PJC, Lúcia Cabral, do Espaço democrático de união, convivência, aprendizagem e prevenção (EDUCAP) do Complexo do Alemão-RJ, Adrielly Gomes Ferreira, do PJC de Vila Sanção em Paruapebas-PA, Gabriel Henrique da Rocha, graduando do PJC na Maré-RJ.

Anne Heder fala sobre a metodologia do PJC, desde o momento do primeiro encontro com o jovem ao seu acompanhamento em todo o ciclo do Programa, pautado pelo protagonismo da juventude e respeito a singularidade de suas trajetórias e experiências durante todo o processo:

Cada trajetória tem seu tempo, seus desafios, seus afetos. Nenhum jovem vive a trilha formativa da mesma forma e para o Programa é uma honra essa singularidade. O ponto para a gente é manter esse jovem no centro […] esse é um dos pontos fortes, esse respeito à realidade e à vida de cada pessoa, de cada jovem.

Lucia Cabral fala sobre as edições do EDUCAP, relembra o trabalho do Cedaps no fortalecimento de redes e projetos em territórios como o Complexo do Alemão e ressalta o diálogo conjunto com os jovens nas ações do Projeto. os debates são realizados a partir da escuta dos jovens.

Adriele Gomes apresentou as ações e ativos comunitários do PJC em Vila Sansão, no Pará, que promoveu diversas ações nas áreas de esporte, saúde, lazer e cultura.

Gabriel Henrique falou sobre sua trajetória no PJC e como o Projeto representou uma oportunidade para acessar cursos e formações e inclusão produtiva, além de experiências e incentivo das pessoas envolvidas no projeto.

Confira as fotos do Painel Temático 1:

Dia 04 de dezembro

Painel Temático 2: Tuberculose e Determinação Social

O painel contou com a participação de Paulo Victor Viana, do CRPHF/ENSP, Tarcísio Motta, Deputado Federal do PSOL-RJ, Josi Alves, da Secretaria de Estado da Saúde (SES-RJ) e Felipe Vieira, da Rede de Instituições do Borel e Rede de Comunidades Saudáveis.

Tarcísio Motta falou sobre a importância das experiências comunitárias na construção de soluções para promoção da saúde. Segundo o deputado, o caminho para resolver os problemas de acesso à saúde que a cidade enfrenta está em aliar conhecimento científico e o saber popular no planejamento de ações efetivas no âmbito de políticas públicas de saúde.

Josi Alves destacou a relação entre tuberculose e determinantes sociais, apontando como a doença está mais presente em territórios de maior vulnerabilidade social. Ao mesmo tempo, a doença aprofunda essas vulnerabilidades, já que o custo do adoecimento é muito alto e afeta toda a família e rede mais próxima.

Josi Alves aponta que o enfrentamento da tuberculose deve ser feito de forma intersetorial:

“Precisa de esforços e esforços coletivos. Precisamos de fato estar unidos no enfrentamento deste agravo. Não é uma doença que só a saúde vai dar conta, precisamos que outros atores abracem a causa. Esse esforço deve ser coletivo de outros setores para que a gente enfrente de fato a tuberculose no Brasil”.

“Às vezes o paciente não quer só um remédio, quer uma escuta. Precisamos olhar além do pulmão, esse além do pulmão são políticas públicas, de educação, transporte, saneamento, olhar esse tratamento como um todo”.

Por fim, Felipe Vieira destacou a importância de iniciativas como o laboratório itinerante para tornar o tratamento à tuberculose mais acessível, considerando a dificuldade de locomoção das pessoas para realizar o tratamento. Felipe também resgata a escuta como uma ferramenta de cuidado ao paciente com tuberculose:

Confira as fotos do Painel Temático 2:

Painel Temático 3: Doenças Determinadas Socialmente e as Ações Comunitárias

Participaram do Painel Temático 3, Lucas Eduardo dos Santos, do Coletivo Megê de Suzano-SP, João Victor Pacheco Fos Kersul, do Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN) de Cuiabá-MT, Rosemar Souza, do Centro de Cultura Afro de Piabetá, Magé-RJ, Denildes Silva do Centro de Referência para Saúde da Mulher (CRESAM) Complexo da Penha-RJ e Huanna Alves Soares, da Associação Cultural de Mulheres Negras (ACMUN) de Porto Alegre-RS.

Segundo João Victor Pacheco, as doenças afetam as populações mais vulneráveis por diversos fatores como a falta de saneamento básico e abandono histórico dos territórios periféricos. Por isso, para João, é importante trazer para espaços como os do seminário Fala, Comunidade! a realidade das doenças negligenciadas e seus determinantes sociais e articular soluções junto a outros coletivos e parceiros. E completa que precisamos de uma saúde que seja integral, tal como definida pela OMS: saúde física, mental e social.

Lucas Eduardo dos Santos convidou o público presente a pensar novos caminhos e futuros possíveis para alcançar o bem viver em territórios populares a partir da reflexão sobre práticas de cuidado coletivas.

Quando a gente fala de cuidado, como a gente se cuida em uma escala 6×1, como a gente tem uma alimentação saudável, faz terapia?Como a gente fala de Bem-viver da juventude nesse contexto? É necessário fazer uma imaginação radical, pensar num universo possível e trabalhar isso na comunidade.

Rosemar Souza e Denildes Silva destaca que o trabalho da promoção da saúde e bem vier é um trabalho em rede e uma luta diária que é indissociável do combate ao racismo e desigualdades. Huanna Alves Soares encerra o painel com uma frase do cantor Emicida que faz uma síntese do seminário e dos debates realizados nos painéis temáticos da manhã do dia 04:

“A gente nunca vai voltar para a nossa comunidade de mãos e mentes vazias”.

Veja fotos do Painel Temático 3:

Painel Temático 4: Experiências em Promoção de Saúde e Vigilância em Territórios Populares em Favelas e Periferias

O Painel 4 controu com a participação de Angela Leal, Diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da saúde, Bruna Gabriela Ramos, do Plano Integrado de Saúde nas Favelas da Fiocruz, Patrícia Lyra, Assistente Social e Coordenadora de Projetos no Centro de Cultura Popular da Baixada Fluminense na Chatuba de Mesquita-RJ e Ione Oliveira, representante do Mulheres de Rocha do Quilombo Mangueira-BH.

Angela Leal fala sobre o desafios para quem vive no território e para quem de fato constrói o dia a dia dos serviços de saúde. Ela destaca que saúde está para além da ausência de doença e o compromisso do fortalecimento da pauta da promoção da saúde. Ações do departamento já impactaram 5.564 municípios, o que representa um avanço na perspectiva da saúde enquanto garantia de direitos e acesso a bens e serviços.

Bruna Gabriela Ramos fala do Plano, cujas ações fortalecem o SUS e a promoção da saúde em favelas do Rio de Janeiro. Também menciona importância de ampliar o financiamento de ações em territórios de favela no Brasil. Segundo elas, as organizações de base territoriais foram as que mais salvaram vidas durante a Covid-19.

O Cedaps democratiza o acesso à saúde, isso fundamental para a gente manter pessoas vivas, fortalecimento da democracia, estamos em um país democrático que sistematicamente tira a vida de uma minoria. Por mais que a gente esteja em um país democrático a gente sabe o quanto as ações que desenvolvemos em territórios, todas elas são saúde e não pela ausência de doença, mas desenvolvem saúde a partir de determinantes sociais da saúde.

Já Patrícia Lyra destaca a importância de falar sobre vigilância popular da saúde e visibilizar o território da baixada fluminense, onde hoje vivem 4 milhões de pessoas.

A Chatuba de Mesquita, território onde atua, tem 45.000 habitantes, mas, segundo ela, ainda há muita dificuldade de serem ouvidos nas especificidades de suas demandas por saúde e bem viver. e terem suas demandas atendidas. Muita dificuldade de ouvir e ser ouvido.

A população atendida nos projetos é aquele 3% da população que não saiu nunca da miséria e não vai sair se não houver real redução da desigualdade. Lidam com uma população que não acessam o mais básico que é o direito a se alimentar […] A baixada tem muitas potências também, mas precisamos chamar atenção também para isso.

Confira as fotos do Painel Temático 4:

Celebração 20 anos da Rede Comunidades Saudáveis e lançamento da coleção: “Vozes comunitárias: memórias, direitos e saberes comunitários”

Sônia Regina e Ana Leila Gonçalves da Rede de Comunidades Saudáveis, Levi Andrade, do Museu da Pessoa e Mariana Toronto, do Cedaps, deram destaque ao trabalho da Rede de Comunidades Saudáveis e à parceria com o Museu da Pessoa. O resultado desta parceria foi a produção da coleção virtual “Vozes Comunitárias: memórias, direitos e saberes populares”, que celebra as narrativas e experiências de pessoas que vivem e constroem a Rede de Comunidades Saudáveis e nos ensinam sobre promoção da saúde, solidariedade e afetos.

No documentário, podemos ver 20 histórias de vida que marcam o 20 anos da Rede Comunidades Saudáveis.

Confira as fotos da mesa de celebração dos 20 anos da Rede de Comunidades Saudáveis:

Arte e promoção do bem viver

Os artistas Silvestre e Daniela estiveram durante todo o Seminário registrando as trocas, conceitos e saberes de forma lúdica e interativa, produzindo uma relatoria gráfica com desenhos e palavras-chave dos debates realizados. Também tivemos a participação do palhaço Xulipa para animar o público antes das mesas da tarde do dia 04. Essas participações reforçam nossa compreensão de que a arte e a cultura são fundamentais para a promoção do bem viver.

 

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