Diante da extrema violência com que vem sendo sitiado o Complexo do Alemão, o CEDAPS, que atua há quatro anos nas comunidades do Complexo, sente-se na obrigação de manifestar publicamente sua indignação quanto à opressão direcionada especialmente a esta localidade.
Diariamente, os moradores de comunidades populares são violentados em seus direitos mais fundamentais pelo tráfico de drogas: sofrem com balas perdidas, com ‘guerras’ entre facções que vitimam pessoas inocentes; são cerceados em seu direito de ir e vir; entre outras violências. Há 53 dias, o Estado, que tem a função de proteger a população moradora de qualquer área da cidade, reforça, ou ainda mais grave, institucionaliza a violência nas comunidades. Assim como o tráfico de drogas, o Estado impõe sua arbitrariedade: revistando mochilas de crianças; humilhando e agredindo moradores, principalmente, os mais jovens; invadindo casas; acusando sem provas, entre tantas outras violações que não chegam ao conhecimento público.
Ou chegam de forma equivocada. A edição do Globo Online, do dia 27 de junho, informa que o jovem Ivo Urbano da Silva, de 17 anos, baleado no braço, foi detido e acusado de integrar uma facção do tráfico de drogas. Este jovem participou de projetos sociais realizados pelo CEDAPS, e nós, assim como a comunidade, sabemos que este é apenas um jovem, como tantos outros da nossa sociedade, que busca e deseja construir uma vida melhor. Perguntamos sobre os outros tantos casos em que não há ninguém de fora da comunidade para questionar essas declarações, uma vez que, ao que tudo indica, a palavra dos moradores nunca basta.
A necessidade de atuação policial justifica a arbitrariedade destas ações? A apreensão de armas justifica a morte de 20 pessoas (Culpadas? Inocentes?) ou o desrespeito aos direitos humanos dos moradores? Qual o balanço desta “megaoperação”, da presença de mais de 1300 policiais, das balas perdidas, das escolas fechadas, das casas invadidas, sobre a estrutura psicológica de todos que viveram esta opressão? Que análise nossa sociedade faz sobre as agressões físicas e morais sofridas pelos moradores do Alemão? E se estas mesmas cenas acontecessem no Leblon, na Barra da Tijuca ou em Copacabana? Por que somos capazes de contextualizar e refletir sobre as agressões de jovens de classes médias e altas e não sobre esta “ação de segurança pública” e menos ainda sobre a violência diária vivida pelos moradores das favelas do Rio de Janeiro ou sobre a letalidade da polícia? Uma moradora do Alemão disse: ‘Você apanha por estar na sua casa’. Quais e quantas justificativas existem para esta situação, para quando o Estado deixa de defender e leva a violência pra dentro da sua casa?