Pesquisa online quer ouvir jovens estudantes de 13 a 21 anos de todo o país
Ainda pequeno, Mailson Cruz já se envolvia em atividades voluntárias na sua escola e comunidade, como recuperações do jardim do local e atividades de leitura com as crianças de outras turmas. Na época, ajudou a erguer uma biblioteca comunitária, que por anos contribui com a aprendizagem dos jovens locais, inclusive a sua. Participou de grupos de jovens ambientalistas, que realizava palestras, plantios, gincanas e conversas para a melhoria da comunidade em que vivia. A partir de 2014, participou do Projeto Ser Criança, onde agregou experiências e novas aprendizagens na promoção da saúde da juventude na sua cidade, Canaã dos Carajás, no Pará. Ele fazia parte do Comitê de Educação Ambiental do município e do grupo “Promotores da Saúde Nova Geração”. O projeto foi desenvolvido pelo CEDAPS e a Fundação VALE e teve como principal objetivo a promoção da saúde naquela cidade. Durante a realização do projeto, ele foi delegado do Brasil no II Fórum Panamericano da Criança e Adolescente. Mailson também fez parte do projeto Aliança Para o Desenvolvimento, uma parceria da Fundação Vale com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
No primeiro semestre desse ano, agora com 19 anos, Mailson teve um novo desafio. Ajudar na elaboração de uma pesquisa que quer ouvir dos jovens como seria a escola dos seus sonhos, elaborada pelo Porvir, programa do Instituto Inspirare, e pela Rede Conhecimento Social. Sobre a importância da inciativa, Mailson é enfático: “temos que ser ouvidos”. “Uma pesquisa direcionada para os adolescentes e jovens enaltece a importância de sermos consultados sobre questões que irão incidir sobre nós mesmos, ou seja, cria-se um espaço de participação e empoderamento, onde podemos ser autores e atores. Os jovens brasileiros representam uma pluralidade valiosa em nossa sociedade e a pesquisa quer ouvir essas juventudes”, completa ele.
Para Mailson, o principal problema da educação hoje no Brasil é um reflexo da sociedade brasileira: a escola não está orientada para atender às pluralidades e individualidades de cada jovem, que acabam se tornando invisíveis. “Pensar na escola dos sonhos, é pensar no acolhimento dessas individualidades e levar o seu tempo para a sala de aula, é levar a descobrir as riquezas e desafios externos à escola e poder aprender com eles”, diz o jovem.
É com a proposta de contribuir na construção dessa “escola ideal” que o Porvir e a Rede Conhecimento Social realizam a pesquisa. “Apesar de muitos especialistas, professores e gestores educacionais reconhecerem a necessidade de transformar a educação para conectá-la com a realidade e as necessidades dos jovens, os estudantes geralmente não são ouvidos e têm pouca participação nas decisões sobre suas experiências de aprendizagem. As recentes manifestações e ocupações de escolas são um indicativo de que os alunos estão insatisfeitos e querem ter maior participação nas decisões sobre a educação que recebem. A Nossa Escola em (Re)Construção é uma ferramenta que dá voz a eles e estimula que reflitam sobre o seu papel na escola e sobre as características que elas devem ter para promover aprendizado e desenvolvimento com sentido”, destaca Tatiana Klix, editora do Porvir.
Para a consulta, a metodologia escolhida foi a “PerguntAção”, desenvolvida pela Rede de Conhecimento Social, que consiste em consultas participativas de opinião, por meio de entrevistas pessoais, com questionário estruturado, visando fortalecer a articulação de grupos para a investigação de temas de interesse. “É diferente de uma pesquisa tradicional porque queremos ter resultados no próprio processo de elaboração de todas as etapas, gerando muito debate, sempre de forma colaborativa com o próprio público-alvo. Quem melhor do que os próprios jovens para dizer o que perguntar para os estudantes sobre a escola dos sonhos?”, diz Marisa Villi, cofundadora da Rede Conhecimento Social.
A elaboração da pesquisa se deu através de oficinas com um conselho orientador, do qual o CEDAPS faz parte, junto com o Instituto Paulo Montenegro, da Fundação Tide Setúbal, da AIESEC, da Box 1824 e Talk Inc, do IBOPE Inteligência, da Ação Educativa e do Mapa Educação. Após essa etapa, 25 jovens de diferentes perfis, entre eles Mailson, das cinco regiões do país, se reuniram em São Paulo, para debater sobre suas escolas, seus anseios e propuseram as perguntas para o questionário, que depois foi refinado pela equipe do Porvir e da Rede Conhecimento Social e pelo conselho orientador.
“A escola deve estar orientada pelos sentidos e conhecimentos coletivos que constrói. Espaço privilegiado de produção de coletividades e singularidades que devem ser cooperativas e solidárias. O diálogo e a participação são caminhos essenciais para a produção da escola”, destacou Kátia Edmundo, diretora-executiva do CEDAPS. Para Mailson, a participação foi proveitosa: “a experiência foi muito prazerosa. Nós jovens participamos da pesquisa desde o início e as opiniões e experiências apresentadas mostraram realidades diferentes e necessidade em comum, expressões puras do desejo de novos modelos”.
Os resultados da pesquisa devem ficar prontos em agosto e serão amplamente divulgados para que sejam usados em debates sobre os rumos da educação em todo o Brasil. Candidatos a prefeito e novos secretários também receberão esses dados, para que possam tomar decisões a partir da escuta dos estudantes. Além disso, escolas e redes de ensino que tiverem a participação de mais de 50 alunos, poderão receber resultados segmentados apenas com as respostas de seus estudantes. Os próprios estudantes também serão estimulados para que utilizem dos dados da pesquisa para refletir como podem colaborar e transformar suas escolas, pressionando por melhorias nas redes de ensino.
A pesquisa está disponível até o dia 30 de junho no link http://porvir.org/nossaescola. Se você possui entre 13 e 21 anos, participe!