Por Juliano Pereira (Assessor Pedagógico da Frente de Juventude)
Se existem palavras que descrevam a experiência da paternidade, eu ainda não as tenho. O que consigo, e pretendo deixar aqui escrito, são processos de aprendizados que este lugar diariamente me desafia, na compreensão e acertos comigo mesmo.
Eu sempre tive curiosidade na paternagem. Parte do que aguçou este desejo em mim, esteve na observação e dedicação do meu Pai pelo seu Pai, meu Avô. Meu Pai sempre se mostrou radiante, feliz e realizado depois da visita que diariamente ele fazia ao meu Avô, até a sua morte. A relação dos dois, mesmo atravessada por conflitos, conselhos, críticas fortes e abertas, despertou o interesse em um dia também ocupar aquele lugar de exposição, escuta e uma certa vulnerabilidade junto a alguém tão próximo.
A paternidade não foi prioridade na minha juventude, somente adulto busquei investir meu tempo na construção de um ambiente que coubesse uma criança. E a pouco mais de 5 anos, mergulhei profundamente em um processo de desconstrução e reformulação de mim mesmo, buscando melhorias, correções, autoconhecimento e autocuidado. A gravidez virou minha vida ao avesso e a chegada de minha filha despertou meu olhar e atitudes para os afetos em uma dimensão não conhecida.
A cruel experiência masculina na qual fui formado, impôs barreiras para o cuidado gratuito, induz depositar valor a algo que me pertença, sirva ou está comigo, e por isso, ser Pai é um processo confuso e desconcertante, uma experiência de total perda do controle e (des)ajustes sentimentais. Foi e ainda é um desafio compreender que parte tão singular de mim não estar em mim, ou dentro do perímetro que eu possa proteger. Isso me educa. As consciências da paternidade exigem maturidade sentimental, aberturas para o desconhecido, entrega, afetos, vulnerabilidade, situações que sempre fui induzido a negligenciar.
A paternidade me desafia a imersão, provoca sair da superficialidade. Ela tem ampliado as condições para eu me aproximar de mim, e encarar as dores e delícias de ser quem sou. A paternidade até agora, é a mais difícil e prazerosa experiência que já vivi.
Se existe algo mais radical e valioso nesta experiência, ainda desconheço. O lugar de espectador do brilho sorridente do olhar de minha filha me ajuda a florescer e juntas vamos construindo, crescendo e aprendendo a nos tornar nós na convivência Filha e Pai.