Notícias

Saúde e Prevenção: mulheres lésbicas e a luta para serem vistas

Formada em Serviço Social pela UFRJ, Dayana Gusmão é uma ativista do movimento lésbico. Já trabalhou no Programa Estadual Rio Sem Homofobia, é atualmente integrante do Grupo Conexão G e fundadora da Coletiva Resistência Lesbi de Favelas. Além de enfrentar o preconceito dentro do seu próprio território, Dayana aponta os desafios das mulheres lésbicas no atendimento de saúde, principalmente o ginecológico. Os relatos sobre as experiências trazem sempre um desconforto, pois o diálogo com os profissionais da área nunca corresponde à expectativa de quem procura tirar dúvidas de como se cuidar e se prevenir.

“Nós temos relatos da nossa coletiva de manas que passaram por atendimentos ginecológicos, até bastante recentes, e que sofreram procedimentos bem violentos ao longo desse processo. Por exemplo, uma que pediu para fazer um preventivo, o profissional fez com brutalidade para doer e identificar que era uma lésbica. Tem outro relato mais recente, de uma mana da nossa coletiva, que pediu pra fazer testes para IST e a médica ginecologista disse pra ela: mas para que você quer fazer testes para IST, se você não transa com homens? Como se a única forma de contrair IST fosse transando com homens. A gente se vê sempre numa situação muito ruim, de ter que ensinar para aquele profissional quais são as demandas das nossas especificidades”.

Entre os relatos no atendimento estão as convicções equivocadas de que mulheres lésbicas não têm risco de desenvolver câncer de mama e de colo de útero, por exemplo. Há também a indicação de anticoncepcionais e preservativos masculinos antes de qualquer abordagem sobre suas práticas sexuais. O atendimento ginecológico é baseado na suposição de que a vida sexual ativa de todas as mulheres é heterossexual ou ligada à reprodução.

“Dentro do sistema de saúde da mulher informações sobre prevenção voltadas para mulheres lésbicas não existem, muitas vezes temos que ensinar quais são as nossas demandas. Já passei por situações da médica me perguntar como as lésbicas transam para que ela tentasse entender quais seriam as possíveis formas de infecção, de contaminação e que então pudesse orientar uma forma de prevenção”, conta Dayana.

As coletivas¹ que compõem a frente lésbica do Rio de Janeiro têm promovido oficinas de ginecologia natural e de sexo seguro entre mulheres, onde orientam questões de como se prevenir. Embora as estratégias sejam pequenas e não voltadas apenas para população lésbica, o intuito é promover o autocuidado entre as mulheres. Dayana recomenda procurar as coletivas para acionar os conselhos, como o Conselho da Mulher e o Conselho LGBT,  para que eles possam demandar outras instâncias do governo para pressionar que as  mulheres lésbicas possam ter os seus direitos legitimados.

“É uma luta que precisa ser cada vez mais coletiva. Uma luta ainda muito inicial no sentido dessa resistência lésbica que a gente têm feito aqui no estado, que se forma a partir da frente lésbica do Rio de Janeiro, que foi muito impulsionada e organizada pela Marielle Franco. Falar da importância da Marielle, para toda essa organização do movimento L no Rio não é um exagero. Ela foi fundamental para nossa organização. Nós temos nos organizado dessa forma e sempre estimulando mulheres lésbicas a colarem nos eventos, nos espaços, para que percebam que não estamos sozinhas no mundo”.

Acesse aqui a cartilha do Ministério da Saúde sobre os direitos das mulheres lésbicas e bissexuais à saúde e participação social.

Conheça as coletivas:

Coletiva Resistência Lesbi de Favelas

Coletiva Visibilidade Lésbica

Coletiva Sapa Roxa

LBL- Liga Brasileiras de Lésbicas

ABL – Articulação Brasileira de Lésbicas