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RCS no combate à intolerância religiosa

Nessa semana celebramos o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa no Brasil, Lei nº 11.635 sancionada pelo ex-presidente Lula em 2007. Para marcar essa data tão importante para cultura brasileira, constituída por variadas crenças e um forte sincretismo religioso, o CEDAPS lança mais uma matéria da série Redes de Histórias, que contará uma vez por mês a trajetória e militância de uma liderança comunitária da Rede de Comunidades Saudáveis.

Esse mês conversamos com Rosemar Soares, assistente social, 55 anos e presidente do Centro de Cultura Afro de Piabetá, instituição em atividade há 25 anos. O CCAP tem como missão incentivar o desenvolvimento local através de ações e projetos que visam a valorização do cidadão e o combate à discriminação da mulher negra. Além de desenvolver atividades na instituição como reforço escolar, escolinha de futebol, orientações jurídicas, encaminhamentos para o primeiro emprego, prevenção das IST/HIV/AIDS e tuberculose na comunidade e em escolas, distribuição de insumos de prevenção, e encaminhamentos para os serviços de saúde apoio/acolhimento para mulheres vítimas de violência.

Na vida pessoal, Rose faz parte da Umbanda há 14 anos, é cuidadora, cuida dos Orixás e das pessoas. Na área social, trabalha com prevenção, principalmente com o público jovem. A liderança contou um pouco sobre sua percepção do atual governo e como o mesmo influencia no aumento da discriminação.

Diante da nova conjuntura política do Brasil, como você sente que as religiões de matriz africana podem ser afetadas quando se trata de intolerância, e como resistir?

Rosemar: Nós sabemos que o conceito dentro dessa nova política é um pouco complicado, as religiões de matriz africana e quaisquer outras que não sejam do contexto deles (governo situação) vão ter problemas sim. Não só a religião, mas todas as frentes que não correspondam ao interesse deles vai enfrentar problemas. Mas acredito na nossa fé. Temos que acreditar na melhora e trabalhar para isso, mesmo que atualmente na política seja o contrário. A perseguição vai ser maior, o que já sofríamos vai dobrar, teremos que fazer as coisas com mais cuidado.

Que elementos contribuem para a perseguição às religiões de matriz africana?

Rosemar: Particularmente, eu vou ser bem sincera com você…. são vários elementos, eu por exemplo sou preta, sou pobre e sou de religião de matriz africana. Mas como será o tratamento recebido por uma Mãe de Santo ou um Pai de Santo branco? Quando se mistura os elementos o preconceito sofrido muda, o tratamento é diferente.

Como liderança, você introduz esses questionamentos dentro do seu território? Se sim, quais são suas estratégias para combater à intolerância?

Rosemar: Eu como liderança nunca misturei a minha vida religiosa com a minha vida na área social, sempre fiquei muito neutra nessa parte. Existem pessoas que usam o canal da religião para o trabalho social, mas no meu caso, eu já tenho a minha função dentro do meu barracão (centro religioso), fora dele, nas redes, eu não misturo, porque sou militante do movimento negro, do movimento social e se tenho que conversar, eu converso com o evangélico, com o católico, com qualquer um, evito misturar as discussões.