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Programa Jovens Construtores lança Estudo de Viabilidade para aplicação da metodologia na educação formal

A relação estabelecida entre jovens e a educação formal é um ponto de atenção e cuidado no Programa Jovens Construtores (PJC), implementado no Brasil pelo CEDAPS. Ao longo dos cursos oferecidos pelo Programa aos jovens, os participantes são constantemente convidados a refletir criticamente sobre o papel da escola em suas vidas e como torná-la melhor.

Ao final do curso de formação, o Programa atua para reconectar jovens à sua formação educacional e alimentar relações saudáveis de aprendizagem. Para isto, o PJC presta assessoria de retorno à escola para os jovens graduados no Programa, estimula e assessora a continuidade dos estudos por meio da formação técnica, e realiza alguns projetos com o intuito de contribuir para o aprimoramento da aprendizagem no Brasil, na esfera pública.

Em 2019, seguindo o exemplo de outros programas da rede internacional do YouthBuild, no Brasil, o CEDAPS iniciou um trabalho para analisar a possibilidade de contribuição da metodologia do Programa Jovens Construtores para a educação pública. A primeira parte desse projeto foi compreender detalhadamente o contexto da educação brasileira e a viabilidade de aplicação da metodologia do Programa à educação formal, a partir de um estudo intitulado: A metodologia do Programa Jovens Construtores é factível e viável como alternativa educacional formal para jovens brasileiros mais vulneráveis? Se sim, como?

O estudo analisa o contexto educacional a partir de seus aspectos financeiros, legais e estruturais, e coloca luz sobre as mais variadas formas do aprender e a importância sobre considerá-las no processo de aprendizagem. Também são analisados os aspectos do Programa que podem contribuir à experiência da escola para o jovem, e com a ampliação do aprendizado e protagonismo da juventude. O lançamento do estudo conta com um sumário executivo e quatro artigos (com autoria de Vitor Azevedo Pereira Pontual e Anna Becker), os quais podem ser acessados ao final da matéria.

Em parceria com o PORVIR, a segunda fase do trabalho está em andamento, com o intuito de aproximar o Programa Jovens Construtores do cenário educacional e desenhar um projeto objetivo de contribuição da nossa metodologia à educação brasileira, a partir dos achados do estudo.

Assessoria do YouthBuild International ao PJC para aplicação da metodologia na educação pública brasileira

Como mencionado anteriormente, outros programas da Rede YouthBuild International (YBI) aplicam sua metodologia na educação formal com a oferta de cursos que certificam jovens no Ensino Médio. Esse modelo já está presente nos Estados Unidos e no México, e caminha para chegar no Brasil, na África do Sul e na Inglaterra.

A certificação de jovens que estavam desconectados do sistema educacional formal é prática nos Estados Unidos, e o YouthBuild International, ao longo de seus mais de 40 anos de atuação, acumulou vasta experiência no tema. No Brasil, o YBI assessora o Programa Jovens Construtores para que possamos contribuir cada vez mais com a educação pública brasileira por meio da nossa metodologia.

O responsável por essa assessoria é Phil Matero, fundador e Diretor Executivo da YouthBuild Charter School da Califórnia, que atualmente conta com 23 unidades. Com base na sua forte convicção de que todos os jovens, independentemente das suas circunstâncias, devem ter acesso a uma educação de qualidade que os prepare para enfrentar as desigualdades sociais e realizar todo o seu potencial, Phil desde 2008 contribui para reconectar jovens com sua trajetória educacional por meio de uma metodologia que aposta na educação por projetos, na justiça social e em uma escola inclusiva.  

Para que possam conhecer um pouco mais sobre as estratégias e formas de atuação da rede internacional YouthBuild, a qual o CEDAPS, por meio do Programa Jovens Construtores, é parte, compartilhamos com vocês algumas perguntas que fizemos à Phil sobre educação.

 

CEDAPS: De acordo com o site, YouthBuild Charters School, nos Estados Unidos tem cerca de 5.5 milhões de jovens que são considerados “desconectados”, isto significa que eles não estão estudando e nem estão trabalhando. No Brasil, de acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), são 10,5 milhões de jovens entre 15 a 29 anos nesta condição. Ao seu ver, quais são os principais fatores que afastam os jovens do ensino formal?

Phil Matero: Em nossa experiência, a maioria dos jovens não abandona a escola porque não quer aprender ou frequentá-la. Eles a deixam porque não está funcionando para eles, e há duas razões principais pelas quais não funciona. A primeira é a inflexibilidade do horário e da estrutura da escola tradicional. Você deve estar na escola em um determinado horário do dia e por um determinado período de tempo para concluir os cursos. Mas à medida que os alunos crescem, eles podem precisar cuidar de um membro da família ou ir trabalhar, e eles não conseguem seguir estudando devido à falta de flexibilidade em como e quando as aulas são oferecidas. Fornecer mais flexibilidade na programação pode ser difícil para as escolas tradicionais, porém durante esse tempo, todos nós estamos aprendendo muito sobre ensino à distância e modelos híbridos, que permitem mais flexibilidade. A nossa escola é também baseada em sala de aula, não em estudo independente, então os alunos também devem vir ao campus. No entanto, conseguimos oferecer muita flexibilidade em como programamos as aulas para acomodar às necessidades de nossos alunos.

Eles precisam ver o valor de sua experiência escolar, ou então podem sair e encontrar outra coisa para fazer que tenha mais a oferecer.

A segunda razão é aquela que ouvimos com mais frequência. Os alunos nos dirão que as escolas tradicionais não têm nenhum significado ou conexão com suas vidas ou futuro. Eles não veem como isso os está ajudando. E é chato apenas sentar em uma sala de aula, ouvir palestras, estudar um livro, memorizar fatos e, em seguida, fazer o teste baseado em quanto eles podem se lembrar. Eles precisam ver o valor de sua experiência escolar, ou então podem sair e encontrar outra coisa para fazer que tenha mais a oferecer. Abordar isso não requer uma reforma de todo o sistema. Tornar as aulas mais relevantes e envolventes é algo que qualquer professor pode fazer. Requer alguma orientação e treinamento em novas estratégias, mas pode acontecer. Dar aos professores mais liberdade para projetar seu próprio currículo, geralmente, leva a um maior envolvimento com seus alunos.

 

CEDAPS: Baseado na crença de que todo jovem, independente da circunstância, deveria ter acesso a educação de qualidade, você fundou e atualmente lidera 23 escolas YouthBuild na California. As Charter Schools da Califórnia resgatam o interesse dos jovens pelo aprender. Quais são as principais estratégias educacionais que compõem a metodologia YouthBuild e que tornam essa iniciativa tão bem-sucedida?

Phil: Começa com a convicção muito sincera de que todo jovem tem inteligência e potencial para dar uma contribuição positiva para a sociedade. Cada pessoa que trabalha em nossa escola acredita nisso. Não vemos os alunos que abandonaram a escola como um problema. Nós os vemos como membros valiosos da comunidade que têm muito a oferecer. Costumo dizer que tenho 2.000 especialistas no que não funciona na educação em minha escola. Nossos alunos têm experiências de primeira mão em um sistema escolar falido. Nós os ouvimos e fazemos melhorias com base em seus comentários. Como resultado, eles realmente gostam de ir à escola! Alguns dirão que é a primeira vez que gostam de ir à escola. Seus professores se preocupam com eles, ouvem e ajudam. Nossos professores dão a seus alunos o tempo necessário para aprender os materiais e concluir as tarefas, até mesmo permitindo que os alunos escolham a melhor forma de demonstrar seu conhecimento do material. Não usamos livros didáticos nem damos provas, exceto aquelas que são exigidas pelo Estado. Os alunos trabalham em projetos que os ajudam a atingir os padrões exigidos pelo sistema educacional. Mas, ao mesmo tempo, os projetos tornam-se significativos para os alunos e para a comunidade.

 

CEDAPS: Em parceria com o YouthBuild International, o CEDAPS vem construindo um caminho para possamos, assim como foi feito nos EUA e México, contribuir com a educação pública por meio do Programa Jovens Construtores. Ao seu ver, quais são as contribuições que o Programa Jovens Construtores pode dar para a educação pública brasileira?

Phil: O Programa Jovens Construtores no CEDAPS é bem elaborado e tem se mostrado eficaz e envolvente para os jovens que abandonaram a escola. As metodologias utilizadas no programa Jovens Construtores poderiam ser incorporadas ao sistema de ensino público para ajudar a melhorar o ensino e a aprendizagem. Eles poderiam trazer atividades e projetos que tornariam a escola mais relevante e significativa para todos os alunos. E mais divertido! Deve ser divertido ir para a escola, e a equipe do programa Jovens Construtores no CEDAPS sabe como criar atividades boas e positivas para os alunos. Assim, o CEDAPS poderia oferecer oficinas ou sessões de formação de professores nas metodologias que utilizam para engajar os alunos. Isso quase certamente levaria a melhorias na maneira como os professores abordam seu trabalho. Em segundo lugar, o CEDAPS poderia fornecer atividades no campus para os alunos. A programação que o Jovens Construtores fornece aos participantes do Programa pode ser oferecida aos alunos em seus próprios território. O programa YouthBuild pode ser adaptado para se adequar a vários ambientes escolares e fornecer uma melhoria para o que acontece na escola. O sistema educacional precisa de reforma, e o CEDAPS poderia ser uma voz para essa reforma, especificamente em relação aos 10,5 milhões de jovens que não estão na escola nem trabalham e precisam de uma opção para ajudá-los a concluir a escola e a transição para uma vida adulta produtiva.

 

Acesse o Sumário Executivo do estudo (disponível em português/inglês) abaixo, clique na imagem! 

 

Acesse também os quatro artigos que compõem o estudo: Pesquisa qualitativa: a percepção de especialistas e jovens sobre a educação brasileira; As alternativas legais para a certificação de jovens no Brasil; Contexto Educacional Brasileiro; e Os Custos da Educação Brasileira

Sobre o Programa Jovens Construtores

Uma tecnologia social voltada para a formação de jovens e adolescentes, originalmente concebida pela organização YouthBuild e implementada no Brasil pelo CEDAPS com assessoria do YouthBuild International.

Sobre a Rede YouthBuild International

O YouthBuild International é uma organização que trabalha com parceiros internacionais para idealizar e implementar os Programas YouthBuild pelo mundo. A Rede Internacional do YouthBuild, cuja o CEDAPS é um dos membros fundadores, é formada por parceiros que incluem ONG locais (EUA) e internacionais, instituições globais de desenvolvimento, governos e empresas do setor privado.