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Parceria busca ampliar debate sobre educação sexual e de saúde para deficientes visuais

Dentro do projeto Caminhos da Inclusão, CEDAPS e IDII desenvolveram materiais para esse público

Se sexo e prevenção às infecções sexualmente transmissíveis ainda são temas tabus na sociedade, quando abordados dentro do ponto de vista das pessoas com deficiência visual isso se acentua. Muitas vezes, por medo e superproteção, elas acabam se tornando extremamente dependentes de seus familiares, o que afeta sua autoconfiança e compromete o processo de descoberta da sexualidade e do corpo.  Entretanto, as pessoas cegas ou com baixa visão, assim como diante de qualquer outra limitação, possuem suas vontades sexuais que devem ser respeitadas. Por essa razão, é fundamental também falar com elas sobre sexualidade e prevenção. “Os familiares, ao superprotegerem seus filhos e também ao se ausentarem de diálogos sobre o assunto, acabam os prejudicando”, conta Raffaela Lupetina, do Instituto Benjamim Instituto Benjamin Constant, centro de referência nacional na área da deficiência visual.

“É importante falar com as pessoas com deficiência visual sobre esses temas pelas mesmas causas que precisamos falar com todas as pessoas. Os riscos não discriminam! Crianças, adolescentes e jovens com deficiência têm perguntas, fantasias, medos, incertezas relacionadas com as mudanças do corpo, com as mudanças do desejo. Eles possuem muitas dúvidas e precisam receber informação. Casso contrario todas essas perguntas ficam reclusas no âmbito do segredo e do obscuro, tornando-os mais vulneráveis e menos saudáveis”, comenta o psicanalista Sérgio Meresman conselheiro do Cedaps e coordenador de Projetos do Instituto Interamericano sobre Deficiência e Desenvolvimento Inclusivo (IIDI).

O acesso à informação é uma barreira que precisa ser superada. Materiais acessíveis, que transmitam a informação de forma apropriada e adequada à realidade das pessoas com deficiência visual são necessários para que exista o diálogo. O uso de áudios e materiais em braile, entre outros devem ser explorados. “É necessária a adequação do material a ser utilizado. Para isso, escritos em braile ou ampliado, vídeos com audiodescrição, áudios explicativos, modelos em três dimensões podem ser utilizados. Mas isso não exclui a boa e velha conversa: essas pessoas precisam ser ouvidas sobre o que e como elas podem/querem receber essas informações”, é o que destaca Rodrigo Agrellos, do Instituto Benjamim Instituto Benjamin Constant.

As principais demandas dessa população sobre o tema sexualidade são referentes aos cuidados necessários. Formas de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs); como ter acesso às camisinhas e às pílulas anticoncepcionais; importância da ida ao ginecologista (no caso das meninas e mulheres); e importância da higiene dos órgãos genitais.

O projeto Caminhos da Inclusão, uma iniciativa do CEDAPS e IIDI –, que também conta com o apoio do Ministério da Saúde, tem como objetivo contribuir para a atenção de efeitos relativos à deficiência em pessoas vivendo com HIV/AIDS e prevenção das DST/AIDS entre pessoas com deficiências. A iniciativa visa desenvolver esforços para aprofundar o debate sobre o assunto, compartilhar ideias e metodologias, consolidar o campo de pesquisa e intervenção no cenário brasileiro e gerar intercâmbios necessários no âmbito internacional.

Para as pessoas com deficiência visual, o projeto produziu uma cartilha em braile e áuidos sobre o tema, além de um cartaz para divulgação da iniciativa. “A educação sexual inclusiva precisa muito de organizações que fazem pontes entre os grupos mais segregados e excluídos e a informação sobre saúde e promoção de vida saudável. Acho que estamos no começo. E devemos continuar aprendendo e criando juntos”, destacou Sérgio Meresman.

“Essas informações precisam ser divulgadas para a sociedade em geral, em especial escolas e centros de saúde. Os profissionais precisam saber como lidar com essas pessoas e conhecer os materiais e metodologias que existem para sua inclusão. Ações como a do CEDAPS encurtam esses caminhos, mas é também necessária uma contribuição do poder público para que isso seja eficiente”, destaca Rodrigo. Já para Raffaela, essas iniciativas são fundamentais: “a elaboração de cartilhas informativas em formato acessível (Braille e letra ampliada), além de áudios são muito importantes para disseminar o conhecimento e informação aos jovens com deficiência visual e também a outros jovens. A produção de áudios com os próprios jovens deficientes visuais valoriza as vozes desses sujeitos, tornando-os atores sociais desse processo e contribuindo para o compartilhamento do conhecimento”.