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“Jovens com deficiência intelectual expressam seus sentimentos de modo próprio e livre”, diz Fabiana Duarte, do projeto Simbora Gente

Falar sobre sexualidade com pessoas com deficiência intelectual ainda é um tabu enfrentado por muitas famílias. Ao mesmo tempo, esse diálogo é extremamente importante, uma vez que, todos nós possuimos sentimentos, desejos e inquietações. Sobre esse tema, conversamos com Fabiana Duarte, coordenadora educacional do projeto Simbora Gente. O projeto tem como objetivo favorecer o desenvolvimento, a convivência na diversidade, estimular a busca do autoconhecimento e da autonomia de jovens com a deficiência intelectual.

CEDAPS: Quais as questões que os familiares costumam ter em relação à sexualidade de seus filhos com deficiência intelectual?

Fabiana: Podem ser várias as questões levantadas pelos familiares, pois esse ainda é um assunto pouco abordado nos diferentes contextos. As pessoas com deficiência intelectual tem sua sexualidade como todas as pessoas, entretanto, em função de uma diminuição da função cognitiva, pode ocorrer a  falta da crítica social, e assim,  manifestar sua sexualidade sem considerar o espaço público e privado. Quando se pensa na pessoa com deficiência intelectual, muitas vezes, não é lembrado que esta pessoa, antes da deficiência é um ser humano com sentimentos, desejos e inquietações. O jovem com a deficiência intelectual, como qualquer outro jovem tem necessidade de expressar seus sentimentos de modo próprio. A sexualidade é parte integrante de todo ser humano, está relacionada à intimidade, à afetividade, ao carinho, à ternura, a uma forma de expressão de sentir e de expressar o amor humano através das relações afetivo-sexuais. Sua presença está em todos os aspectos da vida humana.

Os principais tabus são a curiosidade, o medo, o preconceito e a infantilização.

CEDAPS: Dentro dessa temática, quais as principais questões que devem ser tratadas com as pessoas com deficiência intelectual?

Fabiana: Falar sobre sexualidade é uma forma de fortalecer o cidadão que terá a oportunidade de refletir sobre si mesmo, entender a anatomia e funcionamento de seu corpo, para que possa exercitar sua sexualidade de forma saudável e segura, objetivando amplitude de consciência de suas questões físicas, sociais, comportamentais e afetivas.

É importante falar sobre o que é a sexualidade, sexualidade X sexo, orientação sexual, vulnerabilidade, métodos contraceptivos, aborto, DST’s, relações afetivas familiares, relacionamento sexual, fecundação, gravidez, aprendendo a fazer escolhas afetivas, vida social, amizade, ficar/namoro, casamento, virgindade, masturbação, erotização e mídia, corpo de mulher (anatomia e fisiologia), menstruação, corpo do homem (anatomia e fisiologia), ejaculação, público e privado, o nosso corpo (mudança corporal:  infância, adolescência e fase adulta), transformações do corpo (puberdade, hormônios) e transformações psicológicas (desejos, posicionamentos).

CEDAPS: Qual a maior “reivindicação” das pessoas com deficiência intelectual quando o assunto é relacionamento e sexualidade?

Fabiana: Casamento, filhos, direitos de escolha, amor, vínculos afetivos e autocuidado.

CEDAPS: Qual a melhor forma de falar sobre sexo com as pessoas com Deficiência Intelectual?

Fabiana: A informação deve ser clara, com conteúdo simples e objetivo. O que eles precisam é construírem sua identidade adulta, dispor da possibilidade de serem compreendidos em seus desejos de maneira madura, escolher seus parceiros, namorar e quem sabe se casar.

CEDAPS: Como as atividades do Projeto Simbora Gente colaboram para as pessoas com Deficiência Intelectual?

Fabiana: Trabalhamos  na construção da transformação de novos olhares orientando as pessoas sobre os limites e possibilidades necessários, ajudando-os através da aprendizagem mediada, dos apoios específicos às suas singularidades, acreditando  que todos  temos  muito a contribuir em nossa sociedade.

Em parceria com o Simbora Gente, o CEDAPS, através do projeto Caminhos da Inclusão, está produzindo um material educativo sobre o tema deficiência intelectual e sexualidade. Fique de olho. 🙂