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“Fala, Comunidade” chega a 15ª edição contando histórias de prevenção e cuidado

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  • Fala Comunidade – Dia 1

A 15ª edição do “Fala, Comunidade”, realizada este ano, aconteceu nos dias 6 e 7 de outubro, no Hotel São Francisco, na região central do Rio. O Seminário Nacional, que tradicionalmente trata de assuntos relacionados à mobilização comunitária frente à Tuberculose e à Epidemia de Aids, abordou o tema “Histórias de Prevenção e Cuidado” para comemorar seus 15 anos de existência. Dividido em dois dias repletos de mesas de debates, conversas, trocas de experiência e muita história, o “Fala, Comunidade” reuniu agentes e líderes comunitários de todo o Brasil, moradores de comunidades, ativistas e jovens promotores de saúde.

O primeiro dia, iniciado pelas falas das integrantes do CEDAPS, Kátia Edmundo, Diretora Executiva, e Wanda Lucia, Coordenadora Geral, teve como pontapé inicial uma linha do tempo sobre a história do “Fala”, desde o ano 2000. Enquanto as fotos passavam no telão, o clima nostálgico invadiu a sala, transportando todos os envolvidos na história do evento de volta para o passado, relembrando momentos históricos.

Logo após, foi a vez da assistente social e professora, Rogéria Nunes, falar sobre sua tese de doutorado, intitulada “Mulher de favela: a feminização do poder através do testemunho de quinze lideranças comunitárias do Rio de Janeiro”. Com objetivo de refletir “quem é o sujeito político mulher de favela?”, Rogéria entrevistou 15 mulheres de diferentes comunidades do Rio de Janeiro, e lembrou-se de algumas delas durante seu discurso.

Dona Zica, moradora da favela de Vila Aliança, em Senador Camará, foi uma das personagens citadas. Além de líder comunitária e uma das fundadoras do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas do Brasil, Dona Zica é um exemplo de que não há barreiras quando se trata de idade. Aos 83 anos, é aluna no curso de Serviço Social na Puc-Rio, localizada na Gávea, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro e há cerca de 60km de distância de Senador Camará. Ainda assim, Dona Zica se forma este ano.

Em seguida, Dulce Ferraz, pesquisadora da Fiocruz- Brasília e NEPAIDS, articulou sobre os atuais desafios da prevenção da Aids no Brasil. Para a analista de gestão em saúde, o cenário desfavorável, envolvendo a troca do Ministro da Saúde, a crise política no país e o conservadorismo, só atrapalham nas ações de prevenção, pois campanhas são barradas e assuntos importantes, como a discussão de gêneros das escolas, são proibidas. Dulce também comentou sobre a Prevenção Combinada e Tecnologias Biomédicas, e lembrou que há uma falsa ilusão de que a epidemia da doença está controlada no país.

Dando continuidade, Ives Rocha, assessor do CEDAPS, coordenou a roda de conversa sobre mobilização, prevenção e promoção da saúde, com a presença de representantes da Rede Nacional de Comunidades Saudáveis de diversas regiões do Brasil. Entre elas, lideranças de Alagoas, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Bahia e São Paulo, que foram convidadas a contar sobre suas experiências de promoção da saúde e mobilização comunitária em seus estados.

Após o intervalo para o almoço, formou-se a primeira mesa do dia, abordando HIV/Aids, sexualidade e deficiência. Coordenada por Kátia Edmundo, representante do projeto ‘Caminhos da Inclusão’, a mesa reuniu Maria Aparecida Lemos (Cidadãs Posithivas), Isabel Gimenes (Rio Inclui) e Margarita Ieong (Escola de Gente) para discutirem sobre seus projetos que envolvem pessoas que vivem com deficiências.

Cida Lemos, por exemplo, falou sobre a falta de um espaço de referência para que as pessoas com deficiência possam ir sozinhas fazer seus exames, inclusive o teste de HIV e lembrou: “Conheço a história de um surdo que fez o teste de HIV e quando o resultado deu positivo, ninguém no hospital sabia como dar a notícia a ele”, e continuou: “Alguém teve a ideia de fazer o resultado positivo com as mãos e o surdo saiu feliz da vida. A pessoa só não sabia que a conotação do sinal de positivo para o surdo é outra”.

Ao final do evento, a segunda e última mesa do dia, reuniu jovens para tratar sobre Juventude e Prevenção. Luiza Xavier, que participa do projeto ‘Essa é Minha Vez’/Plan Internacional, Penélope Esteves, do projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direito entre Jovens/ABIA, juntamente com integrantes do Grupo de Teatro Conexão Arte e Vida/Gapa Bahia, abordaram assuntos como sexualidade feminina, falta de estímulo aos alunos nas escolas, homossexualidade, drogas, racismo, direitos humanos e redução da maioridade penal.

O Momento Cultural, envolvendo a apresentação teatral do Grupo de Teatro Conexão Arte e Vida/ Gapa Bahia, finalizou o primeiro dia do “Fala, Comunidade”. O tema da peça não poderia ser diferente: direitos humanos, dando ainda mais fôlego para o segundo dia do seminário.

  • Fala Comunidade – Dia 2

O segundo dia da 15ª edição do “Fala, Comunidade”, que aconteceu no dia 7 de outubro, reuniu novamente, na sala de convenções do Hotel São Francisco, agentes e líderes comunitários de todo o Brasil, moradores de comunidades, ativistas e jovens promotores de saúde. Após o tradicional café da manhã de boas-vindas e o credenciamento dos participantes, teve início a primeira mesa do dia, que abordaria o tema “Comunidades Sem Tuberculose: práticas promotoras da saúde”.

Vestidos com a camiseta com os dizeres “Juntos na Luta Contra a Tuberculose”, o público assistiu a apresentação de Wanda Guimarães (Comunidades Sem Tuberculose), Maria José Pereira (Cruz Vermelha Brasileira/RJ), Roberto Pereira (Fórum de Ongs Tuberculose/RJ), Carlos Basilia (Observatório Tuberculose Brasil) e Patrícia Werlang (PNCT/Ministério da Saúde).

A primeira a abrir a mesa foi Wanda Guimarães que explicou sobre o trabalho ‘Comunidades Sem Tuberculose’ na luta frente à doença. Presente em vários estados brasileiros, o projeto realiza atividades como o apoio ao Fórum de Ongs Tuberculose/RJ, produção e distribuição de boletins informativos e materiais, oficinas e encontros de mobilização, e apoio e assessoria às ações comunitárias. Com as palavras de Wanda, “Nós acreditamos que os agentes comunitários conhecem o território como ninguém, o que auxilia o acolhimento e cria vínculos importantes com as pessoas em tratamento”.

Em seguida, a fala foi de Maria José Pereira, coordenadora de Tuberculose do município de Itaboraí e voluntária da Cruz Vermelha/RJ. Com o slogan “Não dê vacilo. Acabe com o bacilo”, Zezé, como é conhecida, explicou sobre o Programa de Controle da Tuberculose. Para realizar seu trabalho, ela revela que se inspirou na energia da líder comunitária Sônia Regina, moradora do Morro do Urubu e na Cruz Vermelha, para elaborar o uniforme de sua equipe. Vestidos com coletes azuis, os agentes do PCT realizam diferentes ações educativas e lúdicas com o objetivo de sensibilizar e capacitar a sociedade civil para a luta contra a Tuberculose.

Maria José ainda citou as vitórias importantes que seu trabalho trouxe para Itaboraí. Entre eles, está a conquista da cesta básica para todos os pacientes durante o tratamento da doença e a elaboração de uma horta comunitária da sede do Programa de Controle da Tuberculose de Itaboraí.

O Secretário Executivo do Fórum ONGs Tuberculose/RJ, Roberto Pereira, foi o terceiro da mesa. Após sua apresentação contextualizando a Tuberculose desde os primórdios, até a criação do Fórum ONGs Tuberculose/RJ, ele discursou sobre as dificuldades de realizar trabalhos e projetos, e sobre as burocracias na execução de editais e licitações. Ainda assim, o secretário exaltou o trabalho das organizações civis e comunitárias, que apesar dos desafios, não desistem da luta à frente da Tuberculose. Por último, Carlos Basilia, coordenador do Observatório Tuberculose Brasil, e Patrícia Werlang, consultora do Ministério da Saúde, falaram da importância da mobilização social e ações de apoio as Ongs e associações de base comunitária para o controle da tuberculose no Brasil, resgatando a importância do movimento social para a causa em parceria com serviços e gestores públicos.

A segunda mesa do dia foi formada com a temática “Direitos Sociais, Tuberculose e HIV/Aids”. Cláudia Alves, representante do Tribunal de Justiça/RJ, falou sobre o projeto “Justiça Cidadã”. Criado em 2004 pela desembargadora Cristina Tereza Gaulia, o programa de formação continuada tem como objetivo promover a inclusão social e o exercício de uma cidadania mais responsável, por meio de ações educativas que esclarecem ao cidadão seus direitos e deveres. Depois, foi a vez de José Luis Santos da Silva e Maiquel Fouchy, do Grupo pela Educação e Cidadania de Pelotas/RS, que fizeram o panorama de dificuldades das pessoas que vivem com hiv/aids, principalmente em relação aos benefícios sociais e os direitos dos portadores do vírus HIV.

De volta do intervalo de almoço, os participantes do “Fala, Comunidade” foram convidados para duas oficinas que aconteceram ao mesmo tempo, e os participantes se dividiram em duas salas. A primeira, realizada pelo Instituto Promundo, discutiu a paternidade, cuidado e prevenção de violências contra a criança. Já a segunda, feita pela Plan Internacional, falou sobre o projeto “Essa é minha vez!”, sobre o empoderamento de meninas,  na qual Luiza Xavier, que palestrou durante o primeiro dia do Seminário, fez parte.

Chegando ao final, Ana Alice Pereira (Programa Estadual de Tuberculose/SES), Rosangela Albergaria (Conselho de Entidades Negras do Interior do RJ), Maria Rosilda Moreira (Conselho Comunitário de Segurança Alimentar) e Sônia Regina Gonçalves (Conselho Municipal de Saúde/RJ) se reuniram para formar o último bate-papo do “Fala, Comunidade”, coordenado por Wanda Guimarães, com o tema Controle social e Serviços públicos: O que nos une? O encerramento contou ainda com um Momento Cultural, comandado pela Comissão de Cultura da Rede de Comunidades Saudáveis, e com um bolo em comemoração aos 15 anos do “Fala, Comunidade”. Que venha o próximo!