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A importância da mobilização comunitária frente à Tuberculose

Psicólogo Roberto Pereira é parceiro na área da saúde e comenta os 25 anos do CEDAPS

A Tuberculose é uma doença comum em centros urbanos e se relaciona à geografia e às condições de vida das cidades. Roberto Pereira é psicólogo e ativista das áreas de Saúde, Sexualidade e Direitos Humanos, sendo co-fundador e membro da Secretaria Executiva do Fórum de Luta Contra a Tuberculose do Estado do Rio de Janeiro, que articula ONGs, Associações, Academia e Gestores.  Ele nos concedeu uma entrevista para falar sobre a importância da mobilização comunitária frente à Tuberculose, o HIV/AIDS e patologias associadas em contextos de pobreza e fala sobre o trabalho do CEDAPS na promoção da saúde.

A doença é causada pela bactéria chamada Bacilo de Koch, que é transmitida pelo ar, através da fala, tosse e espirro,  afetando principalmente, os pulmões, mas podendo se espalhar pelo corpo da pessoa afetada, atingindo outros órgãos. Ela tem cura em quase 100% dos casos, se identificada e tratada rapidamente. O tratamento dura, em média, seis meses, mas dependendo  da resistência do bacilo, esse tratamento pode demorar até dois anos ou mais. Os remédios são oferecidos pelo SUS. Para Roberto, é de extrema importância que a pauta ganhe evidência. “A Tuberculose é uma das doenças mais antigas do mundo, porém, suas consequências, inclusive o óbito, quando não tratada corretamente, ainda são alarmantes, sendo a principal ameaça às pessoas HIV+. Por conta disso, a partir dos anos 2000, decidimos trazer essa discussão para o coletivo. Nesse período a TB ganhou visibilidade, com novos fármacos, novas metodologias e exames para detecção do bacilo e a sua resistência aos fármacos, políticas públicas e mobilização social. Merece destaque também a inserção do combate à Tuberculose nas Metas da Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A Tuberculose  atinge populações fragilizadas, ainda negligenciadas”, disse, destacando também a importância da criação da Rede Brasileira de Comitês de Tuberculose, da Parceria Brasileira Contra a Tuberculose e do Observatório Tuberculose Brasil, parceiros fundamentais nessa luta.

O Rio de Janeiro é a capital com maior mortalidade por Tuberculose no Brasil. Elaborar estratégias para o combate e para a informação da população, são hoje, as principais atribuições do movimento social. “Hoje nós vemos que a temática ganhou visibilidade, além de ter um movimento social atuante e mais organizado. A nossa luta é contra o corte de recursos e investimentos, que acabam em desmonte das equipes, assim como a sua discussão junto à imprensa e academia. Para os agentes e mobilizadores comunitários, insistimos na necessidade de produção e disponibilização de materiais educativos e  adequados às diferentes realidades sociais, mas ainda percebemos um abandono nessa questão”, analisou Roberto.

O Brasil ocupa o 18º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de casos de Tuberculose no mundo. Somente com uma atenção básica de saúde podemos deixar para trás dados tão negativos. “Nós precisamos manter as estruturas, programas e atuação – esses são os nossos maiores desafios para o futuro. Tratar a TB não é fácil. Nós precisamos instrumentalizar o tratamento para garantir o acesso, e o tratamento não é só ir ao médico e tomar remédio. Tem toda uma logística por trás disso”, afirmou Roberto que usou como exemplo, a dificuldade de alguns moradores em se deslocar até os pontos de distribuição de remédios.

O Bacilo de Koch incide com mais ímpeto onde existe pobreza e grandes aglomerações humanas, devido às questões de insalubridade e menor potencial de ventilação, fazendo que o bacilo circule mais tempo em ambientes fechados. Onde a situação social e econômica é desfavorável, a Tuberculose ganha força. São nesses lugares que o trabalho do CEDAPS ganha destaque. “O CEDAPS atinge essa camada popular, com capilaridade de transformar aquela linguagem científica, para um diálogo mais facilitado. Esse trabalho fortalece a comunidade, chegando onde o Estado não chega, ouvindo e falando a língua do lugar com ações comprometidas”, finalizou.

O CEDAPS aposta no envolvimento da comunidade na discussão sobre a Tuberculose, a fim de identificar uma rede humana que contribua para o enfrentamento da epidemia. Divulgar e esclarecer sobre a doença, identificar situações críticas e promover ações de apoio aos que estão mais vulneráveis e mais distantes dos serviços de saúde, podem favorecer o desenvolvimento e o fortalecimento do enfrentamento a doença.

A Rede de Comunidades Saudáveis é uma iniciativa do CEDAPS, que se apresenta como entidade geradora e se compromete a trabalhar pela consolidação e fortalecimento deste movimento por saúde nas comunidades populares do Rio de Janeiro.