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A comunicação e seu papel nos movimentos sociais

Com 22 anos de experiência na área, Márcia Vilella conta como promover temáticas ligadas aos direitos humanos na mídia

Em 1996, Márcia Vilella recebeu um convite para apoiar nas ações de comunicação do Grupo Pela Vidda/RJ. Naquela época a falta de informação e o estigma eram muito grandes, o que tornava o trabalho desafiador, pela necessidade de aliar um posicionamento crítico e educativo. “Era necessário denunciar sobre os problemas enfrentados por quem vivia com HIV/Aids e promover para a sociedade informações úteis que estimulassem uma cultura de respeito e solidariedade às pessoas vivendo com HIV/Aids” conta ela, que dirige há 25 anos sua própria agência, a Target Assessoria de Comunicação. Desde 2012, a Target realiza o trabalho de comunicação para o CEDAPS.

O trabalho iniciado com o Grupo Pela Vidda/RJ, levou Márcia a realizar atividades semelhantes para projetos e organizações de mobilização social, como Grupo Arco-Íris, Médicos Sem Fronteiras, Rede Buddy Brasil, Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente, Acam – Associação Carioca de Assistência a Mucoviscidose e Parada do Orgulho LBGTI, além do próprio CEDAPS. “Hoje, percebo que ainda existe uma carência em relação ao conhecimento mais específico sobre saúde comunitária e diversidade, por exemplo, sobretudo nos veículos de massa, o que de certa forma engessa o trabalho de assessoria de imprensa. Mas por outro lado vemos o grande potencial dos meios de comunicação alternativos – blogs, sites e redes sociais como referenciais para uma comunicação mais próxima. Hoje necessariamente a nossa comunicação precisa ser digital e verdadeiramente conectada com os públicos com quem queremos trocar (note, não é só falar – é trocar).  Portanto, hoje temos uma grande responsabilidade ao produzir e divulgar qualquer conteúdo, porque a forma de comunicar e receber informação está em constante mutação” destaca. 

Sobre o papel da comunicação nos movimento sociais e sua importância para a realização de ações efetivas, ela é taxativa: “a comunicação precisa ser dirigida e voltada para a troca, o que significa pensar e fazer comunicação tendo como princípio a coparticipação. Seremos mais assertivos sempre que ouvirmos e envolvermos aqueles com quem queremos estabelecer o diálogo / troca. Por isso, não existe fórmula, as estratégias devem ser específicas para cada tipo de situação ou desafio”. Porém, os desafios não são poucos e é necessário que se tenha a compreensão de que tudo começa pelo respeito. “A ignorância e o desconhecimento nos torna cegos e muitas vezes prejulgamos. Isso, no meu modo de ver, é um entrave, pois romper com preconceitos é o grande desafio. Creio ser fundamental ter em mente que, antes de mais nada, o propósito de um trabalho de comunicação de direitos humanos visa tocar as pessoas, criar empatia, solidariedade e assim caminhar para a mudança que desejamos”, explica Márcia.  

Técnica, escuta apuradíssima, criatividade e muita perseverança: são esses fatores necessários para vencer os desafios da comunicação para direitos humanos. “A mudança acontece, mas é preciso trabalhar muito e ser muitas vezes persistente. Sempre conto a história de quando iniciei o trabalho no Grupo Pela Vidda/RJ e usava um modelo de carta que enviava para todo jornalista que usava o termo “aidético” em alguma reportagem. A ideia era esclarecer, informar e colocar o Pela Vidda como fonte para apoiar sempre que houvesse alguma dúvida sobre o tema. Sinto que essa prática contribuiu de alguma forma para erradicar essa expressão dos meios de comunicação, pois hoje as PVHA são citadas de maneira respeitosa nos meios de massa”.

Para Márcia, a força do coletivo é que promoverá as mudanças necessária para uma comunicação mais sensível a causas: “penso que a mudança reside na força do coletivo, com o envolvimento de diferentes atores pensando e fazendo comunicação. Modelos engessados, de baixo pra cima não prosperam ou transformam. A comunicação de direitos humanos, voltada para a mudança, deve ser acessível, compartilhada e criativa – que considere novos canais, novos diálogos e novas tecnologias, à luz da ética e sempre valorizando as potencialidades humanas” finaliza.