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Cedaps e Fundação Obama realizam intercâmbio cultural com jovens negros do Brasil e dos EUA

Na cidade do Rio, a parceria entre as duas organizações teve objetivo de proporcionar aprendizado sobre a herança e cultura da diáspora negra no Brasil

Por: Larissa Carvalho, Cedaps – Rio de Janeiro

O Cedaps e a Fundação Obama, dos Estados Unidos (EUA) realizaram, na semana de 23 a 29 de março, um intercâmbio cultural, na cidade do Rio de Janeiro, entre jovens negros participantes de iniciativas das organizações: Programa Jovens Construtores (PJC) e o My Brother’s Keeper Alliance (MBKA).

Todo ano o MBKA promove um intercâmbio cultural com um grupo de jovens homens e negros de comunidades vulnerabilizadas nos Estados Unidos para uma comunidade parceira em outro país. Este ano o destino foi o Rio de Janeiro, que recebeu oito jovens, quatro de Chicago (Illinois) e quatro de Newark (Nova Jersey). Eles conheceram a cidade com a parceria do PJC e foram recepcionados por quatro jovens construtores, residentes de favelas locais. O intercâmbio faz parte da estratégia do My Brother’s Keeper para promover acesso a melhores escolhas e oportunidades à garotos negros de seu país de atuação.

Foto: Cedaps

Na cidade do Rio, o objetivo da iniciativa, que contou com o apoio da seguradora norte-americana Prudential, foi promover o aprendizado sobre a herança e cultura da diáspora negra brasileira, e sua contribuição para a identidade nacional e carioca, além de oportunizar que os jovens negros participantes refletissem sobre o pertencimento, ancestralidade, resistência diaspórica, arte e liderança em ambientes de direito para criar novos horizontes para o desenvolvimento de suas vidas.

O roteiro do intercâmbio passou por territórios e memórias que remetem à experiência negra no Brasil, circulando por locais como Pedra do Sal, Pequena África, Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, Museu do Samba, Estádio São Januário, entre outros. Os jovens também puderam conhecer pontos turísticos tradicionais, como o Museu de Arte do Rio, Cristo Redentor e Pão de Açúcar.

Fotos: Cedaps

Para o Assessor de Articulação Institucional e Parcerias do Cedaps, Ives Rocha, a experiência com a Fundação Obama foi uma oportunidade para que o Programa Jovens Construtores pudesse proporcionar momentos educativos e de desenvolvimento para os quatro jovens cariocas que participaram do intercâmbio.

“A Prudential indicou o Programa Jovens Construtores e o Cedaps para a Fundação Obama como um potencial parceiro para receber o intercâmbio e passamos seis meses planejando cada detalhe da experiência para que fosse a melhor possível. O intercâmbio foi pensado para unir doze jovens, vindos de Chicago e Newark (EUA) e também daqui do Rio de Janeiro para que percebessem, a partir de uma abordagem positiva da história dos negros no Brasil, que há mais elementos de convergência em suas trajetórias do que divergências. Com o intercâmbio finalizado, podemos afirmar que obtivemos êxito e que cada participante retornou para sua casa com novas perspectivas sobre a história de seus antepassados e da importância destes para a cultura brasileira e americana”, falou Ives.

Foto: Cedaps
Foto: Cedaps

Juliano Pereira, Assessor de Metodologias e Estratégias Pedagógicas, e responsável pela condução  metodológica do intercâmbio, destacou que uma das principais atividades realizada foi o encontro dos jovens com o ator Lázaro Ramos na sede do Cedaps, no Centro do Rio. Para ele, possibilitar com que jovens negros acessem referências negras positivas é fundamental para a superação do racismo e para a formação de lideranças negras seguras.

“Ver um semelhante bem sucedido e comprometido com a pauta racial é sempre um grande triunfo na luta pela promoção da igualdade racial e talvez a ação afirmativa mais eficaz porque inspira. Há vários Lázaros igualmente talentosos no Brasil, e a materialidade de pessoas como Lázaro Ramos altera o curso da história brasileira que é contada, reforçando as vulnerabilidades e violências que essa população ainda está submetida. A história do Lázaro ajuda a ampliar o olhar viciado a sua experiência negra pautado nas dores da escravidão. Falar da superação, da alegria e potencialidade de ser negro é igualmente importante para o Brasil”, disse Juliano.

Fotos: Cedaps

O intercâmbio teve vários pontos altos ao decorrer dos passeios, e cada jovem guardou seu momento preferido. Para Pierre Silva, um dos jovens graduados no PJC, uma das atividades destacadas foi conhecer a história do Samba no Brasil e das pessoas que trouxeram essa cultura tão marcante, principalmente, no Rio de Janeiro.

“Para mim, a visita no Museu do Samba, na Mangueira, foi um dos melhores dias do intercâmbio porque nós conhecemos a história de como tudo começou e, principalmente, o Carnaval. Ouvimos sobre a história de Cartola e de tantas pessoas importantes que colaboraram para a nossa cultura ser diversificada do jeito que é. Tivemos aula de samba e percussão, e foi encantador ver todo mundo tocando bateria. Também comemos uma feijoada, que estava uma delícia e, depois, fomos para uma atividade no Cedaps junto com o ator Lázaro Ramos, que fez uma roda de conversa leve, descontraída e revigorante”, declarou.

Fotos: Cedaps

Após ter contribuído no intercâmbio com o compartilhamento de momentos íntimos de sua vida profissional e pessoal, Lázaro Ramos comentou sobre a importância da troca cultural entre diferentes nacionalidades, expressando sua alegria em contribuir com a atividade no Cedaps. 

“Compartilhar momentos com jovens é uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida, e hoje realmente foi inspirador. Eu tentei falar palavras que inspirassem, mas o que eles disseram, como se apresentaram, os seus olhares, as suas histórias que conheci pela biografia já são uma inspiração em si. Então, fiquei muito honrado em poder compartilhar esse momento”, disse Lázaro.

Foto: Cedaps

A principal missão do intercâmbio de conectar esses doze jovens negros às suas histórias sob o contexto brasileiro e carioca promoveu reflexões sobre a educação escolar no que se refere esse enquadramento histórico. Para outro jovem graduado no PJC, Jonathan Silva, visitar lugares que remetem aos seus ancestrais foi muito importante para entender mais sobre a sua própria história.

“O passeio na Pequena África foi muito importante porque conhecemos muito sobre a história africana, que não é contada corretamente nas escolas e que eu gostaria que fosse porque só são contados os lados ruins e da escravidão. Eu vou levar essa experiência para mim por me conectar com meus antepassados e me reconhecer como alguém que também é negro, mesmo que eu não seja retinto. Outra parte que eu me conectei foi ir ao Museu do Funk porque eu sou da favela e cresci escutando esse estilo musical nas ruas. Então, eu me recordo de quando estava brincando na rua enquanto o Funk tocava. Por isso, é muito legal mostrar a nossa cultura para os nossos amigos americanos porque é um ato de resistência”, encerrou.

Foto: Cedaps