Instituição reconhecida internacionalmente trabalha para fomentar políticas públicas de saúde em comunidades e periferias
Fundado em 1993 com o objetivo de promover a saúde e o desenvolvimento de territórios populares (favelas e periferias urbanas) no Rio de Janeiro, o Centro de Promoção da Saúde (CEDAPS), desenvolveu ações decisivas ao longo de seus 25 anos de história que contribuíram para o fortalecimento de lideranças e para a qualidade de vida de moradores destas áreas. A atuação da ONG começou na favela Vila Canoas, em São Conrado, zona sul do Rio, a partir de uma iniciativa da paróquia da região, e cresceu para atingir mais de 150 comunidades no Rio e muitas outras em vários estados brasileiros.
Daniel Becker, pediatra e fundador do CEDAPS e atual membro do conselho da organização, conta que a finalidade inicial era aperfeiçoar a assistência médica em um pequeno posto de saúde comunitário. “Mas nossa equipe começou a discutir como cuidar da saúde de forma mais ampliada, e tivemos um encontro muito virtuoso com um grupo de assistentes sociais e uma psicóloga com experiência nesse contexto” conta. A partir daí, pensou-se um modelo de atendimento diferente, incluindo a comunidade e mais integral em sua abordagem, e que chamamos de “medicina de família”. Na época, havia poucos projetos semelhantes no país. A iniciativa era baseada nos modelos cubano e inglês e nos agentes comunitários do Ceará, que acabam de ser premiados pelo Unicef.
“Nos juntamos aos mais grupos (Niterói, Porto Alegre e outros) e levamos a ideia ao Ministério da Saúde. Nascia, dessa forma, o “Programa de Saúde da Família” – atualmente conhecido como Estratégia Saúde da Família – e que atende hoje, aproximadamente, 140 milhões de pessoas em todo o território nacional. “Este é o meu maior orgulho profissional: ter contribuído para a criação de um programa tão importante e decisivo na melhoria de vida da população brasileira. O CEDAPS tem uma marca muito profunda neste processo e, apesar de não ter um crédito oficial, está gravado nos nossos corações”, afirma Daniel. De Vila Canoas e Parque da Cidade, o modelo foi absorvido pela rede pública municipal e expandiu-se no Rio também.
Essa experiência em saúde primária, com participação e escuta de moradores, fez com que se despertasse no grupo que compõe o CEDAPS uma sensibilidade muito apurada no que se refere às necessidades de saúde de populações de favelas e periferias. Na época havia um crescimento explosivo da epidemia de AIDS em direção a comunidades empobrecidas. O CEDAPS foi, mais uma vez, a organização pioneira no desenvolvimento de trabalhos de prevenção de base territorial e se tornou referência nacional e internacional nessa área.
“Para você prevenir a AIDS em territórios de pobreza, é necessário agir na perspectiva do desenvolvimento da comunidade, de forma integrada, na melhora da autoestima dos moradores, na redução da pobreza”, comenta Becker. Ele conta que a participação dos moradores foi o elemento mais importante, e que definiu o trabalho do CEDAPS e o desenho de sua principal metodologia – a Construção Compartilhada de Soluções Locais. Foram importantes também o apoio financeiro, logístico e técnico da instituição americana Dreyfus Health Foundation e as muitas parcerias desenvolvidas ao longos dos anos. A partir da experiência da Aids, sempre numa abordagem participativa e de ação, evoluímos em direção ao campo da promoção da saúde e criamos a Rede de Comunidades Saudáveis, talvez a iniciativa mais importante da história da organização.
A metodologia de trabalho do CEDAPS no país rendeu prêmios no Brasil, Canadá e na Austrália, e foi disseminada em diversos países da América Latina, Europa e África. Outro marco na história da ONG é a participação Grupo de Trabalho de Promoção da Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Diante de retrocessos e ameaças ao Sistema Único de Saúde (SUS), Becker defende a necessidade de cobrar do poder público medidas que garantam o direito à saúde plena, com serviços de qualidade. “Apesar de tempos difíceis, de encolhimento inaceitável de políticas públicas fundamentais, a esperança por um Brasil melhor permanece. Mas se torna mais urgente ainda promover programas de fortalecimento de lideranças, de apoio a ações realizadas nas comunidades, buscando convergir as temáticas de saúde, desenvolvimento e meio ambiente, dando oportunidades para jovens e mulheres, que são a população que o CEDAPS trabalha prioritariamente”, completa.