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Seminário aborda promoção da saúde sexual e reprodutiva em comunidades populares

O CEDAPS realizou, de 03 a 05 de março, no Rio de Janeiro, o seminário Construção Compartilhada de Soluções para a Promoção da Saúde Sexual e Saúde Reprodutiva. Inserido no projeto “Iniciativa Territorial para Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva em Comunidades Populares”, desenvolvido em parceria com a Fundação Ford, o projeto envolve oito comunidades da cidade do Rio e organizações de Minas Gerais (Belo Horizonte), Goiás (áreas de quilombos), Bahia (Salvador) e Paraíba (João Pessoa).

O objetivo da iniciativa é contribuir para a construção coletiva de um ambiente de proteção, prevenção e promoção das saúdes sexual e reprodutiva em favelas, quilombos e periferias dos centros urbanos brasileiros. O projeto tem quatro componentes principais: fortalecimento do Núcleo de Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva; realização de ações para agir sobre problemas prioritários; implantação do Comitê Territorial e monitoramento de resultados.

A realização do seminário está ligada ao componente de intervenção direta no território. No encontro, as participantes aprofundaram a discussão sobre a metodologia de intervenção territorial para a promoção da saúde sexual e reprodutiva; trocaram experiências e elaboraram projetos para atuar sobre problemas percebidos por elas nas comunidades. Ao todo, foram desenvolvidos 12 projetos tendo como eixo o enfrentamento coletivo das vulnerabilidades (sociais, programáticas, estruturais) vivenciadas pelas comunidades.

Experiências dos estados

Criada há sete anos, a Bamidelê Organização de Mulheres Negras na Paraíba trabalhará informando sobre promoção das saúdes sexual e reprodutiva no bairro Marcos Moura, no município de Santa Rita. Terlúcia Silva, coordenadora executiva da ONG, conta que no local há altos índices de violência contra a mulher e muitas delas são assassinadas pelos próprios companheiros. Os salários são baixos e os serviços públicos bastante precários.

“As pessoas terão oportunidade de ter acesso a diversas informações que antes não chegavam até eles. A parceria com o CEDAPS é muito importante porque trouxe uma nova metodologia para dar reforço ao nosso trabalho”, diz.

A violência contra a mulher também é uma das preocupações do NZinga Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte, que, há 20 anos, desenvolve programas de combate ao racismo, saúde e direitos reprodutivos de mulheres negras e combate à violência doméstica e racial.

Trabalhar as temáticas “mulheres negras” e “violência doméstica” não é por acaso. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Coletivo, em 2007, em Belo Horizonte, 67% das mulheres que denunciaram casos de violência eram negras. “Essa pesquisa nos trouxe vários questionamentos, como por exemplo, será que as negras denunciam mais ou apanham mais?”, questiona Benilda Regina Brito, coordenadora geral do NZinga.

Em Belo Horizonte, a região escolhida para desenvolver o trabalho, a norte, tem o pior Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH) da capital mineira, a maioria da população é afro-descendente, as famílias são em sua maioria chefiadas por mulheres, além de ter altos índices de mortalidade entre os homens jovens.

“Pretendemos desenvolver nosso trabalho em dois quilombos urbanos. O Quilombo Mangueiras fazendo uma troca com o Quilombo Luízes, na Região Oeste, onde já desenvolvemos trabalhos. A idéia é nivelarmos as duas regiões na discussão sobre saúde e implantar dois centros de promoção da saúde sexual e reprodutiva para as mulheres quilombolas. Também queremos capacitar as lideranças desses quilombos para que elas possam dar continuidade aos trabalhos”, fala Benilda.

Outra organização que escolheu trabalhar no projeto o tema da saúde com recorte racial é o Grupo de Mulheres Negras Malunga, de Goiânia. Também desde sua criação, em 1995, o grupo trabalha com saúde da população negra com enfoque nas mulheres negras, e, mais recentemente, vem desenvolvendo trabalhos com quilombolas.

“Quando fazemos esses recortes, vemos doenças prevalecentes na população negra, como hipertensão, miomas, câncer do colo do útero e anemia falciforme, por isso trabalhamos com oficinas educativas e informativas para prevenir essas doenças”, explica Suety Líbia, coordenadora da área de projetos do Malunga.

A iniciativa no Rio

Situado numa das regiões com maior índice populacional do Rio, o Complexo da Penha e adjacências, na Zona Norte, é o local onde o projeto “Iniciativa Territorial para Promoção da Saúde Sexual e Reprodutiva em Comunidades Populares” será desenvolvido na cidade.

Os projetos elaborados no seminário irão realizar diversas ações voltadas para prevenção de DSTs/Aids, gravidez indesejada, promoção da saúde sexual na terceira idade, violência contra a mulher, cuidados na menopausa, entre outras.

A ONG Nascimento para o Bem, localizada no Morro do Adeus/Complexo do Alemão irá envolver mulheres entre 30 e 50 anos para trabalhar questões ligadas à menopausa e os cuidados para se viver esse período de uma forma mais saudável. Para atrair as mulheres, as autoras do projeto vão realizar atividades variadas, como bingos educativos.

“Queremos dizer para essas mulheres que é possível ter vida sexual saudável e prazerosa e também explicar como prevenir os sintomas do climatério. Tem muitos casos de mulheres que chegam na menopausa, perdem hormônio, ficam ressecadas. O sexo passa a ser algo ruim e elas não querem mais ter relação sexual com o marido. Já vi muitos casamentos acabarem por causa disso”, conta Mariza Nascimento, presidente da organização.

 

Publicada em 13-03-08