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Segundo dia do Fala, Comunidade 10: saúde e prevenção pela cultura e pelo diálogo

O segundo dia de Fala, Comunidade 10 começou com um café de boas-vindas, seguido da primeira mesa de discussão, intitulada “Direito à Prevenção: acesso, intersetorialidade, diversidade, cidadania”.

A experiência de Educação Jurídica Popular no âmbito da Rede de Comunidades Saudáveis foi o tema da apresentação de Roberta Mercadante (CEDAPS) e de Ana Manço (Ascep/Rede de Comunidades Saudáveis – RCS). O principal destaque foram os resultados alcançados com essa proposta: o aprofundamento da discussão sobre direitos humanos no interior da RCS; a construção de 14 Núcleos de Educação Jurídica Popular em favelas e bairros da periferia do RJ e a apropriação da metodologia de EJP de maneira diversa pelos educadores – de acordo com as temáticas trabalhadas pelas associações, entre outros. Neste sentido, Ana Manço ressaltou a desmistificação de instrumentos antes considerados domínios apenas de profissionais do direito, como petições, que foram utilizadas por ela para obter vagas em creches para crianças do Parque Proletário da Penha.

O livre acesso aos preservativos, na perspectiva tanto dos serviços quanto das comunidades, foi o tema de outra exposição desta mesa. Ellen Ayer (Departamento de DST/Aids e Hepatites do MS) falou do acesso a preservativos e outros insumos como um direito, destacando a necessidade de articular esta questão, e toda a resposta brasileira à epidemia de aids, a uma discussão mais ampliada sobre o Sistema Único de Saúde e seus princípios de universalidade, equidade e integralidade. Ellen levantou ainda alguns aspectos que precisam ser melhorados para garantir a efetiva ampliação do acesso: o funcionamento da porta de entrada nos serviços, o sistema de informações que atualmente funciona com muitos indicadores, planos de ação formulados sobre vulnerabilidades e não sobre dados populacionais, entre outros. Em seguida, Sonia Regina Gonçalves (Amamu/RCS) falou do acesso aos preservativos e à informação, proporcionado pela ação comunitária de prevenção. Para Sonia, nesse trabalho, não é possível se encerrar em “caixinhas”, e citou o exemplo da Amamu, que não atende apenas moradores da comunidade, mas também pessoas que “passam” pela comunidade, como entregadores de gás e de lojas. A complexidade dos desafios relacionados ao acesso aos insumos de prevenção ficou evidente nas duas exposições.

Para finalizar essa mesa, Giselle Israel (SMSDC/RJ) apresentou uma experiência de capacitação de profissionais de unidades de saúde municipais para atendimento a profissionais do sexo, transgênero, homossexuais, a fim de contribuir para a formação dos profissionais na perspectiva de respeito à diversidade. Giselle sugeriu que o próximo Fala, Comunidade! tivesse uma reserva de vagas para os profissionais de saúde que ainda mantêm distância das ações da sociedade civil.

Parcerias

As parcerias das comunidades populares no trabalho de promoção da saúde foi o tema da segunda mesa deste dia. A professora do Programa EICOS/Instituto de Psicologia da UFRJ, Cecília de Mello Souza, apresentou a pesquisa sobre a atuação das lideranças comunitárias na Rede de Comunidades Saudáveis e nas comunidades. Cecília, que dividiu a apresentação com alunos participantes da pesquisa, falou das semelhanças da Rede de Comunidades Saudáveis com outras redes (a importância da troca de informações) e das diferenças (menos acesso a tecnologias). “Apesar desse diferencial de recursos [tecnológicos], a Rede continua fazendo por onde pra atingir essa troca de objetivos; uma vez que as tecnologias não são tão acessíveis, a reunião gira bastante em torno dos informes”, disse.

A pesquisa também procurou conhecer o papel do CEDAPS em relação à RCS e os níveis de atuação das 21 lideranças entrevistadas (assistência a demandas pontuais e em momentos de crise; ativismo externo e implantação de projetos locais).

As Celebrações da Saúde foram o tema da apresentação de Vitor Pordeus (Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde da SMSDC), que iniciou sua fala dizendo ser “uma honra enorme estar entre as pessoas que constroem a democracia no Rio de Janeiro”. Vitor falou da “luta cultural” necessária para avançar na promoção da saúde e na construção de uma relação diferente entre as pessoas: “O conceito de saúde que a gente trabalha é a criatividade. Se não exercemos a criatividade estamos com a saúde comprometida”.

Além da Celebração da Saúde e da Cidadania, Vitor Pordeus também apresentou outras atividades-base do Núcleo de Cultura, Ciência e Saúde, como a Oficina de Imunologia para o Cidadão e a Oficina Teatro é Ciência.

Bianca Neuberger, coordenadora de Projetos de Saúde na Escola (SEE), falou sobre o programa Saúde e prevenção nas escolas e da importância da participação, fala e atuação dos jovens no programa.

No encerramento da manhã deste segundo dia, um dos pontos altos da décima edição do Fala, Comunidade: a apresentação cultural “Tabuleiro da Baiana”, organizada e encenada pelas lideranças da Rede de Comunidades Saudáveis.

Na volta do seminário, outra apresentação cultural promovida pela RCS: Ana Manço (ASCEP) e três jovens do Parque Proletário da Penha dançaram a música “Cof, cof”, composta por Ana para divulgar uma mensagem sobre prevenção da tuberculose.

A utilização de vídeos educativos como ferramentas para o trabalho comunitário e a exibição de diferentes vídeos foram o eixo de discussão da mesa “DST e Hepatites: velhos desafios, novas mensagens, novas linguagens”, que contou com a participação de Victor Eloy e Myllene Muller (Departamento Nacional de DST, Aids e Hepatites Virais), Márcia Damiana (Conselho Nacional das Populações Extrativistas, antigo Conselho Nacional de Seringueiros) e também de participantes da RCS que realizam cine-pipoca, vídeos-debate e outras atividades semelhantes em suas comunidades.

Por fim, um “vôo” pelas diferentes estratégias comunitárias de prevenção das DST/Aids realizadas pelos participantes do Fala, Comunidade! 10. Após a identificação das experiências nos mapas do Brasil e do Rio, as informações foram transferidas para o Google Earth e exibidas na plenária final do evento. A visualização das experiências permitiu conhecimento da diversidade de locais e atividades desenvolvidas.

O encerramento do Fala 10 ficou por conta do Grupo Roda Gigante, recitação de poesias e um “repeteco” do “Tabuleiro da Baiana”.