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“Espero que, nos próximos 25 anos, o natural seja a igualdade entre as pessoas e os princípios da equidade de direitos”
Sérgio Meresman é psicanalista formado pela Universidade Nacional de Rosario, na Argentina, e Mestre em Saúde Comunitária, pela Universidade de Liverpool, na Inglaterra. Consultor para vários governos internacionais na implementação de programas de saúde e agências de desenvolvimento, ele atua como coordenador de Projetos do Instituto Interamericano sobre Deficiência e Desenvolvimento Inclusivo (IIDI), que está direcionado ao estudo e desenvolvimento de programas de promoção da saúde com foco em crianças, jovens e mulheres com deficiência em varios paises da America Latina.
Integrante do conselho do Cedaps e parceiro da organização há mais de oito anos, ele conversou com a gente sobre o cenário dos direitos sexuais e direitos reprodutivos para pessoas com deficiência nos últimos 25 anos, os principais desafios para a promoção de saúde e educação sexual para essa população e o que ele espera para o futuro. Confira:
Era muito difícil falar sobre sexualidade para pessoas com deficiência há 25 anos. Até muito pouco tempo atrás, essa população era escondida, abandonada e sofria todo tipo de carência. Ninguém as considerava como sujeitos com direitos sexuais e direitos reprodutivos e a sexualidade era um completo tabu, com todo tipo de prejuízo e barreira para essas pessoas conseguirem exercê-la, falar ou tentar reproduzir relações que tenham como objetivo o prazer e/ou procurar amor. É claro que houve avanços, mas são avanços sob um ponto de partida de muita carência e exclusão a qualquer possibilidade das pessoas com deficiência exercerem sua sexualidade.
O Brasil tem avançado bastante na conquista de direitos, a partir da Convenção das Pessoas com Deficiência. Talvez a área de direitos sexuais e reprodutivos não tenha tido tanto avanço como gostaríamos. É uma área que precisa de educação sexual, fortalecimento de serviços, para melhorar sua capacidade de receber pessoas com deficiência, atendendo suas necessidades referentes à sexualidade, ao planejamento dela e da prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). As pessoas com deficiência ainda tem muito pouco acesso a esses serviços.
Avançamos pouco também na acessibilidade das campanhas de prevenção e de promoção da saúde e na visibilidade dada às pessoas com deficiência, como suas destinatárias e participantes. Muito pouco avanço, ainda, na produção de materiais acessíveis, sejam em libras, ou em formatos maiores, alternativos e simplificados, de acordo com as necessidades dessa população.
Temos algumas experiências promissoras e bem sucedidas, de algumas organizações, serviços e programas que estão rompendo tabus, mas ainda é pouco abrangente.
Um desafio é a capacitação dos professores e profissionais de saúde para oferecer informação, educação e serviço relacionados à sexualidade e aos direitos sexuais e reprodutivos das pessoas com deficiência. Precisam se preparar, quebrar seus próprios preconceitos e tabus.
Outro desafio é abrir espaço nas organizações de pessoas com deficiência, para que elas passem a acolher iniciativas que tenham a ver com esse tema. Muitas ainda estão fechadas e com medo de se abrir para a necessidade de promover a educação sexual.
Também temos um desafio muito grande para as mulheres com deficiência, que são, dentro dessa população, as principais vítimas de violência e manipulação sexual. Em geral, por falta de acesso à educação e alternativas de emprego e dependência econômica, são vítimas de abuso sexual. O empoderamento dessas mulheres é um desafio muito importante.
São muitos anos de colaboração em promoção da saúde e direitos sexuais com o CEDAPS. Nos últimos seis, com a ajuda do Instituto Interamericano sobre Deficiência e Desenvolvimento Inclusivo (IIDI) começamos a atuar com deficiências, primeiramente com projeto muito interessante de educação inclusiva, chamada Escola de Todos, e nos últimos anos desenvolvemos o Caminhos da Inclusão. É uma parceria muito querida, importante e potente, que precisa continuar se desenvolvendo e gerando outras parceiras.
Eu espero que as pessoas consigam desnaturalizar a exclusão, acabar com a aceitação passiva que predomina em muitas organizações, instituições e famílias, e que nos próximos 25 anos o natural seja a igualdade entre as pessoas e os princípios da equidade de direitos, de forma que isso resulte em uma sociedade melhor preparada para conviver, para se ajudar solidariamente e para conquistar todos os níveis de desenvolvimento que estão sendo propostos no caminho sustentável e dentro da perspectiva do desenvolvimento inclusivo.